sábado, maio 3, 2025



‘Enxurrada’ de denúncias sobre descontos ilegais não impediu INSS de firmar novos acordos com entidades, aponta PF

Tribunal de Contas classificou como “escabrosos” os casos de descontos associativos e apontou falhas graves na fiscalização

A Polícia Federal apontou que, mesmo diante de uma “enxurrada” de reclamações e processos judiciais por descontos indevidos, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) continuou firmando acordos de cooperação técnica com entidades para a realização de “desconto de mensalidade associativa”.

“Portanto, a mesma autarquia que declara não possuir capacidade de fiscalizar os ACTs [acordos de cooperação técnica] é aquela que libera novos acordos e consignações de descontos em sua folha”, destaca o relatório.

Além disso, uma análise da CGU (Controladoria-Geral da União), também citada no documento, aponta que o órgão não implementou “controles suficientes para mitigar os riscos de descontos indevidos”, mesmo ciente da “falta de capacidade operacional necessária para o acompanhamento dos ACTs”.

Outro trecho do documento ressalta que, mesmo com um aumento de 772% nos pedidos de cancelamento entre julho de 2023 e abril de 2024, “o INSS limitou-se a suspender novas adesões de algumas entidades e por um curto período”.

A situação levou o TCU (Tribunal de Contas da União) a questionar formalmente: “Por que o INSS autorizou essa sistemática de desconto consignado para mensalidades associativas e sindicais se não tinha condição alguma de fiscalizar?”. O tribunal classificou como “escabrosos” os casos de descontos associativos.

Documentos retidos

A investigação também revelou que os documentos que autorizavam “expressamente os descontos associativos” estavam sob guarda das próprias entidades e, segundo o relatório, só eram apresentados ao INSS mediante solicitação. “Parcela relevante da documentação demandada pelo INSS às entidades associativas durante a execução da inspeção não foi por elas encaminhada corretamente”, informa o texto.

Ainda não se sabe quanto desse valor foi indevidamente descontado e quanto tinha autorização dos beneficiários.

Os investigados poderão responder por corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, falsificação de documentos, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

A apuração das autoridades levou à demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e ao afastamento de servidores.

Dois dias depois da operação, representantes do INSS e da CGU informaram a suspensão dos descontos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas por convênios com entidades, como associações e sindicatos. A pausa é por tempo indeterminado, até a conclusão da análise de cada acordo, para a identificação dos descontos irregulares.

Segundo o ministro da CGU, Vinicius de Carvalho, para reorganizar o sistema de desconto e torná-lo mais rígido e seguro, é necessária a suspensão de todos os acordos de cooperação técnica vigentes, celebrados pelo INSS com entidades nos últimos anos.

“O governo vai ressarcir o que foi descontado irregularmente. Isso estará em um plano que será apresentado em breve”, declarou Carvalho.

O ministro não informou, no entanto, quando ou como esse ressarcimento será feito. Segundo Carvalho, o governo federal elabora um plano para identificar os descontos fraudados e permitir as devoluções.

O planejamento, que deve ser apresentado “em breve”, como afirmou o ministro, vai detalhar o total dos valores que serão ressarcidos e o formato das reposições.

FONTE: R7.COM

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